Você já ouviu algum noticiário sobre o valor do barril de petróleo em reais, ao invés de dólar? Ou então o resultado da balança comercial, se superávit ou déficit, em reais? Acredito que não. E isso está relacionado a dolarização do comércio mundial, iniciada com o acordo de Bretton Woods.
Isso porque o dólar é a unidade de conta e o acordo de Bretton Woods é o início de tudo.
Mas antes de falar sobre o acordo em si, precisamos falar sobre moedas, especial o ouro e o dólar.
O papel do dólar na economia mundial
O dólar é a moeda mais importante do mundo hoje, mas nem sempre foi assim. Vamos entender um pouco como isso aconteceu.
Depois da primeira guerra mundial, com a inflação sendo utilizada para financiar a guerra, muitas moedas se desvalorizaram, como libras, francos, marcos, porém somente o dólar se manteve estável.
Houve um colapso do investimento e comércio internacional e Winston Churchill, o ministro de finanças do Reino Unido, sugeriu que o padrão ouro deveria ser retornado o quanto antes, ou seja, haveria o lastro de moedas ao ouro.
Nesse momento, foi criado o padrão ouro. Porém, as exportações britânicas desabaram e o desemprego continuou alto. Foi então que aconteceu a Grande Depressão em 1929, nome dado devido à forte recessão econômica que atingiu o mundo capitalista.
De 1931 a 1945, os papéis-moedas seguiram flutuantes, ou seja, sem um padrão conversível em ouro, ocasionando em taxas de câmbio sofrendo fortes oscilações, muitas tarifas alfandegárias e um caos completo no sistema financeiro.
A segunda guerra mundial aconteceu na Europa e, devido ao caos monetário, fez com que o ouro fluísse para o único refúgio monetário relativamente seguro, ou seja, os Estados Unidos.
Às vésperas de acabar a segunda guerra mundial, o acordo de Bretton Woods foi assinado. Foi em julho de 1944, em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos.
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O surgimento do dólar como moeda de reserva global
Os representantes das principais economias mundiais assinaram o acordo, com o objetivo de estabelecer um sistema monetário internacional estável.
O acordo estabeleceu o dólar americano como a principal moeda de reserva internacional e criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), atualmente conhecido como Banco Mundial.
O sistema Bretton Woods foi baseado em taxas de câmbio fixas, em que as moedas dos países membros foram fixadas em relação ao dólar americano, que por sua vez foi fixado em relação ao ouro. Os países membros foram obrigados a manter suas taxas de câmbio dentro de um estreito intervalo em relação ao dólar, e o FMI foi criado para ajudar a manter essa estabilidade.
Foi assim que o dólar se tornou o centro do sistema monetário, sendo conhecido como o padrão dólar inconversível.
Os efeitos da dolarização do comércio mundial na estabilidade financeira
Nessa época, os Estados Unidos fixaram em USD 35,00 a onça de ouro e isso acabou inflacionando os dólares, fazendo depreciar o câmbio.
Os governos de outros países aumentaram os resgates em espécie e as reservas de ouro dos Estados Unidos caíram em 50%.
Jacques Rueff, um grande economista francês, chamou isso de o grande pecado do ocidente (The Monetary Sin of the West), pois ele criticou o sistema alegando que era insustentável.
Críticas ao sistema de Bretton Woods e o seu fim
De 1968 a 1971 iniciou-se o declínio de Bretton Woods, pois o mercado de Londres e Zurique tinham dificuldades de manter USD 35,00 e começou a vigorar o duplo mercado de ouro, onde os governos de mercado livre negociavam o valor em uma paridade maior.
Houveram muitas críticas ao sistema, como desigualdades na distribuição de poder, restrições à política monetária, instabilidade financeira e falta de flexibilidade.
Com toda essa instabilidade, Richard Nixon, presidente americano, declarou em rede nacional o fim da paridade ouro x dólar e deu fim a Bretton Woods.
Essa é a primeira vez do dólar sem vínculo ao ouro e é a primeira vez no mundo inteiro sem nenhuma âncora numa moeda mercadoria, e sim na moeda papel.
No momento que acaba o vínculo ao ouro, o valor da onça dispara no mercado para mais de USD 215,00.
A escalada das pressões inflacionárias e a crise do petróleo de 1973
No início do papel moeda flutuante, sem nenhuma âncora cambial, os países começaram a operar sem saber qual ferramenta utilizar.
Começaram então a utilizar os agregados monetários, mas os bancos centrais logo se deram conta de que não tinham controle sobre os agregados.
Foi então que começaram a utilizar o aumento de juros para combater a inflação, e que até hoje temos a meta de inflação dos países para ser atingida.
A transição para o sistema de taxas de câmbio flutuantes
De março de 1973 à setembro de 2008, os papéis-moeda flutuantes, sem nenhum lastro em moeda mercadoria, vigoraram.
Alguns países adotaram a taxa de câmbio fixa ou a taxa de câmbio flutuante.
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Houve uma série de ciclos econômicos, bolhas financeiras, crises bancárias e inflação de preços.
Por que a experiência de Bretton Woods ainda é relevante para entender a economia global contemporânea?
Embora o sistema de Bretton Woods tenha colapsado, a experiência ainda é relevante para entender a economia global contemporânea.
A hegemonia do dólar americano como a principal moeda de reserva internacional ainda é uma característica chave do sistema monetário internacional atual. Assim como no período de Bretton Woods, existem desigualdades econômicas significativas entre os países mais ricos e os países em desenvolvimento, o que pode gerar tensões e instabilidades econômicas.
O legado de Bretton Woods oferece insights valiosos sobre como os acordos internacionais moldam a dinâmica econômica e política entre os países
A criação do FMI e do Banco Mundial é um legado que ainda perdura.
Os insights da experiência de Bretton Woods nos mostram a importância da cooperação internacional e da coordenação de políticas econômicas para lidar com os desafios da economia global contemporânea.
Além disso, a necessidade de reduzir as desigualdades econômicas entre os países e aumentar a flexibilidade do sistema monetário internacional são questões-chave a serem consideradas em qualquer reforma futura.
As decisões econômicas globais têm consequências duradouras e a busca de um sistema monetário mais justo e estável são fundamentais para enfrentar os desafios econômicos do mundo contemporâneo.
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