[ 15 de julho de 2020 por Equipe CDT 0 Comentários ]

Andrea Tonon: Conhecendo os riscos existentes no Comércio Internacional

O Comércio Internacional é a troca de bens e serviços entre empresa, através de fronteiras internacionais, ou seja, é o comércio realizado no mercado externo, entre empresas de diversos países, é a circulação de bens e serviços entre países.

Ele é um dos responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da economia de um país no mundo globalizado, mas para quem opera no comércio internacional precisa estar 100% atendo aos riscos existentes que possam afetar, parcial ou totalmente a sua operação de importação ou exportação, pois conhecendo os riscos existentes no Comércio Internacional você terá a chance de ao menos minimizá-los.

Os riscos no comércio internacional sempre existiram e não deixarão de existir, mas o diferencial para uma empresa que atua no comércio internacional poder crescer e evitar prejuízos, é pontuar os possíveis riscos que poderão surgir e se prevenir da melhor forma possível.

É necessário fazer uso do risco calculado, ou seja, ter o conhecimento dos riscos que poderão existir, fazer uma análise prévia de toda a situação e se precaver destes possíveis riscos, utilizando-se de garantias, de mecanismos de proteção para a realização do seu negócio.

Você precisa conhecer bem o seu cliente ou fornecedor, o seu mercado, o seu país! Vendedores têm o dever de entregar o produto/serviço, Compradores têm o dever de pagar pelo bem ou serviço adquirido e Garantidores têm o dever de cobrir a falha de alguém.

Podemos classificar os riscos existentes no comércio internacional em três grupos:

1.) Riscos Comerciais

Os riscos comerciais são aqueles representados pela pessoa do importador (comprador) ou do exportador (vendedor) ou por um banco. Estes riscos podem ser:

1.1) Atrasos no pagamento ou do não pagamento pelo importador (comprador) pelo bem ou serviço adquirido.

Antes de fechar qualquer tipo de negócio, o exportador precisa, antes de mais nada, realizar uma boa avaliação cadastral do seu potencial comprador internacional, analisando sua idoneidade, capacidade de pagamento, sua saúde econômico-financeira. É necessário

verificar se o importador está ou não passando por dificuldades financeiras, se ele tem ou não possível histórico de “mal pagador”.

Portanto, apure em qual segmento de mercado a empresa com quem se está negociando atua, analise como está este seguimento em um momento de crise do país especificamente. Verifique o histórico de pagamento dessa empresa às concorrentes, à rede bancária, avalie o histórico comportamental dessa empresa no mercado interno e externo, não esqueça de checar também o seu grau de endividamento. Certifique-se de não encontrar nada que identifique problemas de fraude ou má fé.

A análise de todas essas informações pode ser feita através de empresas especializadas como SERASA, Experian, dentre outras, e também de informações enviadas pelo próprio exportador e através de fontes comerciais e bancárias indicadas por ele.

É preciso avaliar o cadastro da empresa, levantar o passado dessa empresa até os dias atuais e verificar se ela terá ou não fluxo de caixa para pagamentos a ser realizados no futuro. A avaliação tem como meta considerar o passado da empresa, observar a situação atual dela, para assim fazer uma projeção futura. Procure considerar em sua avaliação no mínimo os últimos três exercícios anteriores ao que se analisa.

Vale ressaltar que se há bancos envolvidos na operação, seja na qualidade de garantidores ou de emitentes de créditos documentários, cartas de créditos, também precisam ser avaliados, checando se eles têm realmente capacidade de cumprir os compromissos assumidos. É necessário verificar se o banco que está emitindo uma carta de crédito, por exemplo, está ou não localizado em um país de risco.

Em uma aula que tive anos atrás com o professor Angelo Luiz Lunardi, teve uma frase dele no curso que fez praticamente todos ali presentes refletirem, que foi:

“Precisamos aprender a analisar bancos também, pois eles podem a qualquer momento quebrar”

1.2) Falha na entrega (embarque) ou da não entrega (não embarque) do bem ou serviço negociado

Para se precaver do risco da falha na entrega ou não entrega do produto ou serviço pelo exportador, o importador precisará avaliar a idoneidade do exportador e suas referências, sua capacidade de entrega, se ele é o fabricante do produto ou apenas um terceiro, uma empresa comercial, ou até se há eventuais restrições governamentais que venham a ser impostas pelo país do exportador sobre a exportação dos bens a ser adquiridos pelo importador.

Infelizmente pode acontecer de você encontrar falhas na entrega ou até mesmo a não entrega do produto ou serviço que pretende adquirir por motivos alheios à vontade do exportador, e isso não tem como prever.

O que você pode fazer e que está em seu alcance é condicionar o fechamento do negócio a uma inspeção pré-embarque, por exemplo, e também se valer de mecanismos de proteção que podem vir a lhe assegurar o pagamento de indenizações por perdas e/ou danos provocados pelo descumprimento do contrato, como utilizar-se de instrumentos de garantia emitidos por bancos, como garantia de oferta (bid bond), garantia de desempenho (performance bond), garantia de manutenção (maintenance bond), dentre outros.

Ao fazer uso de uma inspeção pré-embarque, tenha em mente que qualquer pessoa pode certificar essa inspeção, inclusive o próprio fornecedor, portanto, é viável você indicar ao vendedor qual entidade deverá fazer a inspeção, em qual local será feita e como deverá ser feita, levando em consideração que tudo isso deve ser negociado antes do importador efetuar a compra.

Não podemos prever os riscos que aparecerão, mas podemos nos antecipar a eles, utilizando-se de medidas protetivas.

1.3) Recebimento pelo importador (comprador) de mercadoria com defeito

Receber produto importado com defeito é bem mais comum do que se possa imaginar, por isso não podemos simplesmente contar com a sorte, é preciso se garantir através de um Contrato Internacional de Compra e Venda muito bem feito, pois através de garantias contratuais muito bem definidas em cláusulas de contrato, lá no início das negociações, o importador conseguirá um diferencial em suas operações, evitando assim prejuízos consideráveis.

Lembre-se que ao receber uma mercadoria com defeito você poderá ter a opção de solicitar ao exportador o conserto da mesma ou a sua substituição, mas para que isso ocorra haverão custos logísticos ligados à operação de envio da peça ao exportador, para conserto ou efetuar a sua substituição, sem falar no tempo adicional gasto com tal operação, então, será de suma importância prever tais custos adicionais para assim serem inseridos em cláusula de contrato, descrevendo minunciosamente a responsabilidade de cada parte envolvida (Importador e Exportador).

Você, como importador, tem o dever de saber exatamente quais são os seus custos operacionais em seus processos de importação, pensar em todos os riscos que poderão acontecer, para assim poder negociar com o seu exportador todas as garantias necessárias, inserindo no contrato internacional de compra e venda a responsabilidade de cada uma das partes.

2.) Riscos Políticos

Riscos políticos são os que são representados pelo país e não pela pessoa do importador ou do exportador. Estes riscos são caracterizados por decisões e ações governamentais, riscos estes que estão fora do controle das empresas.

Como riscos políticos podemos considerar medidas de intervenção do Estado que podem dificultar a remessa de divisas para o exterior, ou uma moratória declarada pelo País, em que todos os pagamentos ao exterior ficam suspensos, inclusive os decorrentes de importação de bens e serviços, bem como a suspensão da exportação de determinados bens ou serviços ou ainda do cancelamento ou não renovação de licenças de importação ou exportação.

Como forma de se precaver, antes de fechar qualquer negócio entre importadores e exportadores, é aconselhável fazer um levantamento dos riscos do país em que este importador ou exportador está localizado, checando quais os riscos existentes nestes países que poderão interferir direta ou indiretamente nas operações de importação e exportação. Se o governo é ou não instável, se há ou não inflação descontrolada, se há ou não alta taxa de desemprego.

É preciso tomar cuidado com as restrições de cada país, é preciso ter cuidado com países que têm problemas de reservas cambiais, é preciso ter cuidado com os países de risco. Analise primeiramente a região, e depois faça uma análise mais específica do país com que se está negociando. A situação financeira e o contexto político de um país acaba influenciando nas atividades da empresa importadora ou exportadora e em sua capacidade de honrar com os seus compromissos financeiros.

Lembre-se que o “calote” inicia no mercado financeiro e finaliza com os fornecedores. Existem agências de classificação de riscos como a Fitch Ratings, S&P – Standard & Poor’s ou Moody’s, além de outras centenas de pequenas instituições que fazem análises de pontos específicos, recorrendo tanto a técnicas quantitativas como taxa de juros, fluxo de caixa, solidez do balanço patrimonial, projeções de resultados futuros, bem como a técnicas qualitativas como o contexto político, ambiente externo, questões jurídicas, dentre outros pontos, para assim poder emitir o rating de uma empresa ou de um país.

Com as classificações de riscos pode-se avaliar o grau de investimentos ou grau de especulações, se há ou não alto risco de inadimplências, e com tais informações em mãos você terá uma ajuda adicional em sua avaliação final.

Países que não tem grau de investimento são considerados países de risco.

3.) Riscos Extraordinários

Os Riscos Extraordinários são todos os riscos representados por guerras, revoluções, greves, lockout, comoção civil, bem como terremotos, inundações, furacões, erupções vulcânicas e outros fenômenos da natureza que possam impedir o embarque de materiais e o pagamento das importações.

Antes de realizar o embarque da carga, verifique qual rota será utilizada desde a saída na origem até a chegada no país de destino. Certifique-se de que a rota escolhida é a melhor opção, cheque se é a rota mais segura para a sua carga.

Se uma rota não puder ser evitada, planeje a sua logística para que você possa trabalhar com tempo extra, já considerando em seu cálculo possíveis atrasos com carga parada.

Como você pode ter visto, são vários os riscos envolvidos nas operações de comércio exterior, no entanto, eles nunca deverão ser motivo para desestimular ou impedir que o negócio em si ocorra. O que precisa ser feito é simplesmente conhecer todos os possíveis riscos existentes no comércio internacional, identifica-los, monitorá-los e adotar ações que possam minimizá-los ou até mesmo eliminá-los.

E você, caro leitor (a), conhece mais algum risco existente no comércio internacional? Já se deparou com algum deles em suas operações de importação ou exportação? Como fez para minimizá-lo ou eliminá-lo? Já utilizou os serviços de alguma agência de classificação de riscos? O que Achou? Contribua com seu comentário para enriquecermos ainda mais a troca de conhecimento e experiência com os demais leitores.


Andrea Tonon

Esposa, mãe e atuante no Comércio Exterior. Ama viajar, conhecer novos lugares, estar com a família e amigos. Formada em Secretariado Executivo, mas nunca exerceu a profissão de fato. Caiu de “paraquedas” no mundo do COMEX há 11 anos e se apaixonou pela área desde então.

Fez um intensivo de Comércio Exterior pela Aduaneiras e cursos de capacitação pelo Canal Aduaneiro e Banco do Brasil e vem atuando na área de importação e exportação de equipamentos, peças de reposição e acessórios. Hoje divide informações e conhecimentos que adquiriu ao logo dos anos com estudantes e colegas de profissão através de seu blog e perfis no LinkedIn e Instagram.

Blog: www.andreatonon.com
LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/andrea-tonon
Instagram: @andreatonon_comex

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