[ 14 de julho de 2020 por Equipe CDT 0 Comentários ]

Thiago Pagano: Os impactos de embargos e crises no mundo do comex.

Sempre quando analisado o mundo global como um todo, o mercado em que o comex está envolvido e onde ele impacta está sempre em ebulição e, por conta dos grandes jogos de interesses entre países ou blocos existem conflitos que atrapalham a cadeia logística internacional.

Quando um país entra em conflito com o outro, sendo ele econômico ou até bélico, são gerados os embargos, ou seja, o bloqueio da entrada de mercadoria do país original naquele que indicou o embargo.

Em outras palavras, por uma questão de conflitos entre governos, os produtores do país X não poderão exportar para o país y. Um exemplo claro é o que recentemente aconteceu entre EUA e China, onde por conflitos de interesses entre seus governantes e uma grande queda de braço envolvida entre eles, fez com que o governo Chinês embargasse toda e qualquer entrada de produto americano na China, bloqueando assim quaisquer commodities desta origem.

Seguindo neste exemplo, a China era o maior comprador de soja americana não transgênica, transgênica, ou chamada de NON-GMO até que o embargo fosse feito e, o que fez com que produtores americanos não pudessem mais exportar este produto.

O grande impacto deste embargo gerou uma crise interna nos EUA, porém outros países que tem este tipo de produto tivessem a atenção em seus produtos, tentando conquistar o mercado que os americanos perderam.

Começa assim o chamado efeito “oferta e procura”, ou seja, por uma questão de força maior outros países que produzem este tipo de item podem ser favorecidos e, a oferta vai aumentar e, com isto a soja americana será desvalorizada ou perderá poder de venda.

Mas o que impacta isto ao mercado brasileiro?

Por questão deste embargo falado acima, o Brasil é um grande produtor de soja, por exemplo, porém não é grande especialista em soja NON-GMO, ou seja, para que entre neste mercado e conquiste a China, o produtor brasileiro terá que se adequar a este tipo de produto, que pode levar um bom tempo.

Existe a outra questão também é que caso os produtos concorrentes do original sejam ou tenham uma qualidade pior em outros países de origem, as produções ficar paradas ou mesmo estocadas.

No caso da soja, para que não haja perda da colheita atual, o mercado americano se voltará a outros clientes, estabelecendo assim o certo “Se você não quer, tem quem queira”, ou até mesmo queimando o estoque e barateando o produto.

Entrando neste mérito, o mercado chinês terá que procurar por substitutos para a soja NON-GMO, ou seja, saia em mercado e procure um produto similar, favorecendo outros países como o Brasil, que vendem soja Transgênica (GMO) aos montes.

Entra assim o jogo de interesse de países produtores de produtos similares para conquistarem aquela fatia de mercado, perdida por conta do embargo. Em suma, no final das contas, o mercado mundial passará por uma readaptação e, podendo assim favorecer outro tipo de produto.

Em outras palavras, o que pode ser ruim ao mercado americano e seus produtores, poderão ser fantásticos ao mercado brasileiro, já que por uma questão de falta de qualidade de produto mundial, os chineses tenham que comprar o produto que o Brasil, com muito mérito, fornece há anos.

Já houve embargos quanto a produtos brasileiros?

Não muito tempo atrás, o mercado brasileiro de carne e seus derivados sofreu um grande embargo de países como a Rússia e a própria China, ou seja, coube aos frigoríficos brasileiros vender a sua carga para outros países no mundo, para assim não perderem a produção. Este embargo levou um bom tempo para cair, e coube aos frigoríficos se readaptarem e mostrarem que seus produtos poderiam entrar novamente em países que os bloquearam.

Os embargos costumam acontecer até para que haja as melhorias nas produções, ou seja, deixam de ser um jogo político entre países e vira uma questão de produto de qualidade entrando no país destino.

Voltando ao exemplo dos frigoríficos, os mesmos tiveram que seguir normas internacionais, submetendo assim aos produtos que já eram feitos a rigorosos teores de qualidade, para poder entrar livremente na Rússia, por exemplo.

Então os embargos podem ser bons?

Quando a resposta desta pergunta estiver vinculada a fator qualidade, a produto ou a preço sim, já que com isto, produtos de melhores qualidades e custo-benefício possam entrar no país de destino, favorecendo assim ao cliente final o poder melhor de escolha.

Outra questão é que o embargo pode e deve favorecer o produto original de outro país, ou seja, fazendo com que acordos bilaterais possam ser costurados.

O que são acordos bilaterais ou multilaterais?

Ao contrário dos embargos, os acordos bilaterais são acordos entre países onde o país A ajudará ao país B, importando seus produtos e tendo a preferência de compra de determinados produtos.

Quando se tratam de multilaterais, são blocos inteiros como MERCOSUL, NAFTA, EURO e etc negociam seus produtos, tratando como blocos e não mais países, Em outras palavras, num exemplo simples, o MERCOSUL fará um acordo multilateral com a zona do EURO para a exportação de trigo, independentemente do país de origem. Este acordo permitirá que os países do bloco do EURO, por exemplo, tenham preferência na compra, porém podem ou não fazer uso desta compra.

Qual o tempo médio para a duração de um embargo?

Em mercado é comum que os embargos, caso não seja por uma questão de força maior, como de pandemias, desastres naturais ou guerras mundiais, os embargos tendem a se manter no prazo de até 90 dias, podendo ser prorrogado ou não, dependendo de como os envolvidos irão negociar a queda do mesmo ou não.

De certa maneira, os embargos, ao contrário dos acordos bilaterais ou multilaterais, servem para esfriar quaisquer negociações ou mesmo ajustar qualquer produção do país de origem, assim tornando o produto com melhor custo-benefício.

Nem sempre quando o embargo cai significa que o retorno de envio de carga seja imediato, já que por muitas vezes, autoridades do país embargador solicitem a órgãos certificadores vistoriarem a carga do país embargado, podendo assim levar tempo para estabelecer o fornecimento.

Thiago Pagano:

Apaixonado e entusiasta de comércio exterior e atuante há mais de 15 anos na área, Thiago é especialista na área de comércio exterior, principalmente em importação e exportação (área de comércio exterior) dentro de empresas, além de ter criado o canal no Youtube, o ComexFacil, que visa mostrar que importar e exportar não é tão difícil e, hoje em dia vive como consultor de comércio exterior para empresas, especializado em pequenas empresas.

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